O PROCESSO DE SUPERAÇÃO DA EDUCAÇÃO BANCÁRIA RELACIONADO COM AS PRÁTICAS
DO PIBID.
Milene Benites Pontes - UERGS
Prof.ª Msc. Percila Silveira de
Almeida - UERGS
Sara Lima Pereira - UERGS
Prof. ª Dr ª. Martha Giudice Narvaz
– UERGS (Orientadora)
Resumo: O trabalho aqui proposto traz como reflexão a relação
da prática docente no processo de ensino-aprendizagem, bem como a superação da
educação bancária, explicitada por Paulo Freire desde a Pedagogia do Oprimido.
Desse modo, faz se necessário, repensar como está ocorrendo esse modelo de
educação reproduzido nas escolas. Com isso, busca-se investigar como estão ocorrendo
as práticas pedagógicas do programa institucional de bolsa de iniciação a
docência, na escola pública do município de Alegrete-RS. O trabalho surgiu a
partir de reflexões decorrentes das atividades desenvolvidas pelo projeto
PIBID, que ainda estão em andamento e que tem contribuído para nosso processo
de formação e iniciação a docência.
Palavras-chave: Prática pedagógica, docência e PIBID.
Introdução
O
referido trabalho tem como objetivo explicitar com estão correndo às práticas
de iniciação a docência propostas nas oficinas do PIBID, Programa de Bolsa de
Iniciação a Docência, que estamos realizando em uma escola do município de
Alegrete, e a relação dela, com a concepção de Paulo Freire, no que se refere à
educação bancária e seus pressupostos.
Propomos
uma reflexão das práticas do projeto, e a sua relação com a educação bancária, para
que ocorra uma superação desse processo educativo, por meio da educação
problematizadora, também preconizada por Paulo Freire e que abre possibilidade
para a construção de práticas que libertem o educando dessa educação
tradicional.
Os
pressupostos freireanos servem como orientação para a formação docente no que
diz respeito à reflexão critica da prática pedagógica. Fazem com que os
educadores repensem suas práticas pedagógicas, analisem e percebam o que precisa
ser mudado no processo de ensino-aprendizagem.
A partir
desses aspectos buscamos saber: Como se desenvolvem nossas práticas
pedagógicas? Utilizamos uma concepção bancária ou uma concepção inovadora?
Faremos uma análise no que se refere, a forma como estas reflexões se encontram
no processo da educação, e o que estamos fazendo para mudar a educação do
modelo tradicional, que estamos entendendo o qual permanece presente.
Referencial
Teórico
Percebe-se
nos dias de hoje, a busca constantemente de uma educação que tem como papel
principal, formar cidadãos críticos e pensantes. Desse modo, procuramos
integrar em nossas práticas, a educação transformadora, delineada por Freire,
que permite ao sujeito a organização reflexiva de seu pensamento.
A
educação libertadora pressupõe caminhos metodológicos inovadores, fazendo com
que o aluno, seja um ser reflexivo, questionador, e crítico. Ao contrário da
bancária que faz do aluno um ser que reproduz e delimita-o a uma aprendizagem
mecânica. Desse modo, Paulo Freire faz uma distinção entre os dois modelos de
educação: (...) a “bancária”, que serve à dominação: outra a problematizadora,
que serve à libertação. Enquanto a primeira, necessariamente, mantém a
contradição educador-educandos, a segunda realiza a superação (FREIRE, 1970, p.68).
Nesse contexto, pode-se entender que a educação problematizadora, possibilita um
modo em que podemos formar seres conscientes, questionadores, e investigadores
da realidade. E a prática bancária inibi o aluno a pensar e a usar suas
potencialidades restringindo- em sua aprendizagem. Além de manter uma barreira
entre professor e aluno, o depositante, e o depositado.
Em relação à educação bancária Paulo Freire diz:
O educador é o que educa; os educandos, os que são educados; o educador
é o que sabe; os educandos, os que não sabem; o educador é o que pensa; os
educandos, os pensados; o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que
escutam docilmente; o educador é o que disciplina; os educandos, os
disciplinados; o educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos, os
que seguem a prescrição; o educador é o que atua; os educandos os que têm a
ilusão de que atuam; o educador escolhe o conteúdo programático; os educandos
se acomodam a ele; o educador identifica a autoridade funcional que opõe
antagonicamente á liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às
determinações daquele; o educador, finalmente, é o sujeito do processo; os
educandos meros objetos. (FREIRE, 1983, p.68).
Nessa
visão o professor é considerado o único detentor do saber, e os alunos são
apenas receptores, ouvintes que não podem expressar suas opiniões, pois todos
são os atores no processo educativo, o educador não deve ser apenas o
transmissor e o aluno o receptor, deve haver uma troca de experiências.
A
transformação na educação ocorrerá quando houver a superação total da educação
bancária, foi com esse pensamento de reagir a esse tipo de educação, que
iniciamos as nossas práticas de iniciação à docência no PIBID.
A concepção bancária e as práticas do PIBID
Ao darmos
inicio com as práticas, realizamos encontros de formação pedagógica, onde se
faz necessário a fundamentação teórica para ampliar nossa visão crítica sobre a
docência.
Em nossas
práticas, buscamos estimular a construção do conhecimento, procurando adaptar a
metodologia de ensino ao aluno, relacionando também com a sua realidade,
valorizando as vivências, experiências e o conhecimento que o aluno trás
consigo, respeitando o ritmo de aprendizagem de cada um. Desta forma procuramos
oferecer ao aluno uma educação crítica, reveladora sobre uma visão de mundo
ampliada, baseada na compreensão de Paulo Freire, de uma educação libertadora,
que faça o aluno ter seu pensamento autêntico, e reflexivo.
A
educação problematizadora, preconizada por Paulo freire, faz-se necessária, pois nessa perspectiva, o aluno não é apenas um ser que
assimila os conteúdos. Esta propõe uma educação que acredita no cognitivo do
educando, desenvolvendo-se como um ser questionador, crítico que possa intervir
e entender o modo de sociedade a qual está inserido, e assim sirva de agente
para transformá-la. Visando uma educação problematizadora é que através de
nossas práticas procuramos estimular nos educandos a criticidade e o desenvolvimento
intelectual.
Metodologia
Para este
estudo nos baseamos nas práticas do PIBID e nas formações realizadas com
embasamento teórico e posteriormente tivemos a oportunidade de observar o
objeto de estudo. Esse relato de experiência permitirá fazer uma reflexão sobre
nossa prática pedagógica.
A
pesquisa descritiva, segundo Gil (1987, p. 45-46) “[...] têm como objetivo
primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno
ou estabelecimento de relações entre variáveis”. Gil afirma que a Pesquisa
Qualitativa, de acordo com os objetivos, pressupõe etapas de tipo observatória,
descritiva e explicativa. O autor diz que a pesquisa social e a educacional
atuam, geralmente considerando as duas primeiras fases. A observatória é a primeira
etapa, busca conhecer a realidade do objeto de estudo. A descritiva, é posterior
a observatória, contempla os registros que descrevem e detalham a observação
realizada, que será interpretada pelo pesquisador.
O relato
das experiências se baseia nas práticas realizadas, através da aplicação das
oficinas contempladas no subprojeto “Saberes e sabores da docência: o
reencantamento do prazer de aprender e ensinar através da mitopoética do
Alegrete”. Este pretende a qualificação
na formação docente dos bolsistas, através da experiência da iniciação a
docência, fazendo uma relação entre a teoria e a prática, como também aos
educandos pertencentes ao subprojeto, a fim de melhorar a qualidade do ensino
da Educação Básica, e o aumento do IDED (Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica). Objetiva-se com isso possibilitar caminhos diferenciados de
aprendizagem através do desenvolvimento de estratégias e práticas docentes
realizadas pelos bolsistas, através da experimentação de maneiras correntes de
expressividade, buscando potencializar diferenciadas práticas docentes.
A aula
oficina pressupõe o trabalho coletivo e a participação efetiva dos educandos no
desenvolvimento das atividades propostas, podendo elaborar, construir e agir
sobre uma variedade de materiais transformando-os em pedagógicos, considerando
a diversidade dos educandos. Os conteúdos foram contextualizados de acordo com
a realidade dos educandos e a avaliação era através da observação, da
participação nas atividades e o interesse de aprender, respeitando o tempo de
aprendizagem de cada aluno. Os sujeitos que participaram são alunos do 1º ano,
com faixa etária entre seis e sete anos.
Foi
realizada uma prática de quatro horas semanais, durante quatro meses na escola
onde são desenvolvidas as oficinas. Na oficina “Era uma vez...”, foi trabalhado
a contação de histórias, através do livro, “Bichodário”- Telma Guimarães, e
atividades relacionadas ao texto. Os alunos fizeram o registro da história, através
de desenhos, confecção de um mural coletivo, e um bingo de letras, enfatizando
o reconhecimento das letras para formação de palavras. Nessa perspectiva possibilitou-se
que o aluno entendido como um ser reflexivo, capaz de intervir e compreender o
mundo a sua volta, pudesse criar e reconstruir seu aprendizado, através das
atividades que lhe foram proporcionadas.
A oficina
“Pequenos Escritores do Alegrete”, tem o objetivo de desenvolver as práticas de
leitura e escrita, de contos típicos da região. Desse modo foram trabalhadas
algumas das poesias do autor Mário Quintana, e vídeos que mostraram as
principais características da vida do autor. A partir do vídeo, desenvolveu-se
a produção de texto individual, e a construção de um texto coletivo. Desenvolvendo
assim a escrita, e o desenvolvimento cognitivo do alunado, valorizando dessa
forma, o pensamento autêntico dos alunos e alunas.
Na oficina
“Um, dois, três”, trabalhou-se a alfabetização matemática e desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático. A partir
disso, foi proposta uma aula com o histórico da matemática, e fizemos uma roda
de conversa com curiosidades, perguntas, e dúvidas sobre como começou a
matemática. Logo após aplicou-se exercícios relacionados à matemática, com as
seguintes atividades: quadro mágico, ligar o número ao nome correspondente,
dominó, descubra quem é o antecessor e o sucessor do número, resolva as
continhas de adição e subtração e o jogo twister matemático. A partir
desta prática, possibilitou-se a oportunidade dos educandos interagirem com o
conteúdo, sendo o centro da aprendizagem.
A oficina
“Sopa de letrinhas” tem a finalidade de trabalhar a construção da escrita e a
prática da leitura, com enfoque no letramento e a alfabetização. Para o alcance
deste, foram desenvolvidas as seguintes atividades: reconhecimento do alfabeto
em ordem alfabética, o caça-palavras, e a junção de sílabas, formando palavras.
No final da aula, foi desenvolvido um jogo que teve a proposta de instigar o
alunado a usar o tato, aprendendo através de uma brincadeira e ludicidade no
processo de aprendizagem.
Na oficina
“Corpo e Arte em Movimento” foi desenvolvida a expressão corporal, artística e
a criatividade dos alunos e alunas. O tema da aula oficina foi sobre a
Consciência Negra. Neste contexto trabalhamos a história da origem africana, e
o porquê da comemoração desta data. A partir disso, foi apresentada a história
“A menina bonita do laço de fita” de Ana Maria Machado e atividades
relacionadas à história. As atividades foram: interpretação de texto, completar
a história, e separar as palavras em sílabas. Na finalização da aula, foi
proporcionado aos educandos, trabalhar com argila, no pátio da escola, com o
objetivo de usar a criatividade, construindo algo que para eles representasse a
cultura africana. Neste momento, oportunizamos aos alunos e alunas caminhos
metodológicos diferenciados que apontam a compreensão do mundo.
A oficina
“Navegando”, busca integrar o educando nas tecnologias da informação,
desenvolvendo a curiosidade e o espírito investigativo. Nesta oficina
proporcionamos aos alunos (as) uma introdução à informática. O tema da aula foi
sobre tecnologias. Os alunos assistiram ao filme produzido por Chris Wed e
Carlos Saldanha, após foi realizada uma conversa sobre o que eles compreenderam
e atividades relacionadas do mesmo, que foram realizadas no laboratório de
informática. As atividades foram desenvolvidas nos programas Word, Paint, e softwares
educativos, com a finalidade de desenvolver a
criatividade e raciocínio lógico.
Mesmo que
o processo ainda esteja em desenvolvimento, com essas oficinas podemos perceber
que a proposta inicial foi alcançada na medida em que conseguimos realizar as atividades
que possam libertar o educando da educação tradicional.
Reflexões processuais sobre as práticas desenvolvidas
Com esta
pesquisa, foi possível uma reflexão sobre as nossas práticas de iniciação a
docência, nos possibilitando uma grande aprendizagem na possibilidade de
podermos mudar a educação tradicional bem como apontando uma formação
qualificada, para o curso de Licenciatura em Pedagogia.
A prática
não reprodutora, reflexiva, inovadora e questionadora, pretende a superação da
educação bancária, podendo assim oferecer uma educação fundada em valores
humanistas, formando seres críticos socias.
Nas aulas
oficinas, procuramos desenvolver o cognitivo do aluno, sendo trabalhado seu
pensamento autônomo, sua opinião crítica, com atividades que os façam, pensar,
refletir, e incentivar a concepção de realidade.
É através
da educação, que podemos começar a mudar o contexto social, mas só com ela, não
se faz a mudança. Segundo as palavras de Paulo Freire, ele traz sua ideia da
responsabilidade que a educação exerce: “Se a educação sozinha não pode
transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda” (FREIRE, 2OOO,
p.67).
Referências
FREIRE,
Paulo. Educação como prática da
Liberdade. Rio de Janeiro; Paz e Terra, 1980.
FREIRE,
Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de
Janeiro; Paz e Terra, 2005.
GIL, Antônio
Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 2ª ed. São Paulo:
Atlas, 1989.
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da Indignação:
cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
ZAMPAULO, Jamil Rodrigues.
Considerações introdutórias sobre o conceito de metodologia em seu significado
acadêmico. Disponível em:
http://fgh.escoladenegocios.info/revistaalumni/artigos/Artigo_Jamil.pdf
Acesso em: 23 de maio de 2012.
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