quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O PROCESSO DE SUPERAÇÃO DA EDUCAÇÃO BANCÁRIA RELACIONADO COM AS PRÁTICAS DO PIBID.


                                                                          

 

O PROCESSO DE SUPERAÇÃO DA EDUCAÇÃO BANCÁRIA RELACIONADO COM AS PRÁTICAS DO PIBID.

 

Milene Benites Pontes - UERGS

Prof.ª Msc. Percila Silveira de Almeida - UERGS

Sara Lima Pereira - UERGS

Prof. ª Dr ª. Martha Giudice Narvaz – UERGS (Orientadora)

 

Resumo: O trabalho aqui proposto traz como reflexão a relação da prática docente no processo de ensino-aprendizagem, bem como a superação da educação bancária, explicitada por Paulo Freire desde a Pedagogia do Oprimido. Desse modo, faz se necessário, repensar como está ocorrendo esse modelo de educação reproduzido nas escolas. Com isso, busca-se investigar como estão ocorrendo as práticas pedagógicas do programa institucional de bolsa de iniciação a docência, na escola pública do município de Alegrete-RS. O trabalho surgiu a partir de reflexões decorrentes das atividades desenvolvidas pelo projeto PIBID, que ainda estão em andamento e que tem contribuído para nosso processo de formação e iniciação a docência.

Palavras-chave: Prática pedagógica, docência e PIBID.

 

Introdução

O referido trabalho tem como objetivo explicitar com estão correndo às práticas de iniciação a docência propostas nas oficinas do PIBID, Programa de Bolsa de Iniciação a Docência, que estamos realizando em uma escola do município de Alegrete, e a relação dela, com a concepção de Paulo Freire, no que se refere à educação bancária e seus pressupostos.

Propomos uma reflexão das práticas do projeto, e a sua relação com a educação bancária, para que ocorra uma superação desse processo educativo, por meio da educação problematizadora, também preconizada por Paulo Freire e que abre possibilidade para a construção de práticas que libertem o educando dessa educação tradicional.

Os pressupostos freireanos servem como orientação para a formação docente no que diz respeito à reflexão critica da prática pedagógica. Fazem com que os educadores repensem suas práticas pedagógicas, analisem e percebam o que precisa ser mudado no processo de ensino-aprendizagem.

A partir desses aspectos buscamos saber: Como se desenvolvem nossas práticas pedagógicas? Utilizamos uma concepção bancária ou uma concepção inovadora? Faremos uma análise no que se refere, a forma como estas reflexões se encontram no processo da educação, e o que estamos fazendo para mudar a educação do modelo tradicional, que estamos entendendo o qual permanece presente.

 

Referencial Teórico

 

Percebe-se nos dias de hoje, a busca constantemente de uma educação que tem como papel principal, formar cidadãos críticos e pensantes. Desse modo, procuramos integrar em nossas práticas, a educação transformadora, delineada por Freire, que permite ao sujeito a organização reflexiva de seu pensamento.

A educação libertadora pressupõe caminhos metodológicos inovadores, fazendo com que o aluno, seja um ser reflexivo, questionador, e crítico. Ao contrário da bancária que faz do aluno um ser que reproduz e delimita-o a uma aprendizagem mecânica. Desse modo, Paulo Freire faz uma distinção entre os dois modelos de educação: (...) a “bancária”, que serve à dominação: outra a problematizadora, que serve à libertação. Enquanto a primeira, necessariamente, mantém a contradição educador-educandos, a segunda realiza a superação (FREIRE, 1970, p.68). Nesse contexto, pode-se entender que a educação problematizadora, possibilita um modo em que podemos formar seres conscientes, questionadores, e investigadores da realidade. E a prática bancária inibi o aluno a pensar e a usar suas potencialidades restringindo- em sua aprendizagem. Além de manter uma barreira entre professor e aluno, o depositante, e o depositado.

Em relação à educação bancária Paulo Freire diz:                   

O educador é o que educa; os educandos, os que são educados; o educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem; o educador é o que pensa; os educandos, os pensados; o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que escutam docilmente; o educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados; o educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos, os que seguem a prescrição; o educador é o que atua; os educandos os que têm a ilusão de que atuam; o educador escolhe o conteúdo programático; os educandos se acomodam a ele; o educador identifica a autoridade funcional que opõe antagonicamente á liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às determinações daquele; o educador, finalmente, é o sujeito do processo; os educandos meros objetos. (FREIRE, 1983, p.68).

 

Nessa visão o professor é considerado o único detentor do saber, e os alunos são apenas receptores, ouvintes que não podem expressar suas opiniões, pois todos são os atores no processo educativo, o educador não deve ser apenas o transmissor e o aluno o receptor, deve haver uma troca de experiências.

A transformação na educação ocorrerá quando houver a superação total da educação bancária, foi com esse pensamento de reagir a esse tipo de educação, que iniciamos as nossas práticas de iniciação à docência no PIBID.

 

A concepção bancária e as práticas do PIBID

 

Ao darmos inicio com as práticas, realizamos encontros de formação pedagógica, onde se faz necessário a fundamentação teórica para ampliar nossa visão crítica sobre a docência.

Em nossas práticas, buscamos estimular a construção do conhecimento, procurando adaptar a metodologia de ensino ao aluno, relacionando também com a sua realidade, valorizando as vivências, experiências e o conhecimento que o aluno trás consigo, respeitando o ritmo de aprendizagem de cada um. Desta forma procuramos oferecer ao aluno uma educação crítica, reveladora sobre uma visão de mundo ampliada, baseada na compreensão de Paulo Freire, de uma educação libertadora, que faça o aluno ter seu pensamento autêntico, e reflexivo.

A educação problematizadora, preconizada por Paulo freire, faz-se necessária, pois nessa perspectiva, o aluno não é apenas um ser que assimila os conteúdos. Esta propõe uma educação que acredita no cognitivo do educando, desenvolvendo-se como um ser questionador, crítico que possa intervir e entender o modo de sociedade a qual está inserido, e assim sirva de agente para transformá-la. Visando uma educação problematizadora é que através de nossas práticas procuramos estimular nos educandos a criticidade e o desenvolvimento intelectual.

 

Metodologia

 

Para este estudo nos baseamos nas práticas do PIBID e nas formações realizadas com embasamento teórico e posteriormente tivemos a oportunidade de observar o objeto de estudo. Esse relato de experiência permitirá fazer uma reflexão sobre nossa prática pedagógica.

A pesquisa descritiva, segundo Gil (1987, p. 45-46) “[...] têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre variáveis”. Gil afirma que a Pesquisa Qualitativa, de acordo com os objetivos, pressupõe etapas de tipo observatória, descritiva e explicativa. O autor diz que a pesquisa social e a educacional atuam, geralmente considerando as duas primeiras fases. A observatória é a primeira etapa, busca conhecer a realidade do objeto de estudo. A descritiva, é posterior a observatória, contempla os registros que descrevem e detalham a observação realizada, que será interpretada pelo pesquisador.

O relato das experiências se baseia nas práticas realizadas, através da aplicação das oficinas contempladas no subprojeto “Saberes e sabores da docência: o reencantamento do prazer de aprender e ensinar através da mitopoética do Alegrete”. Este pretende a qualificação na formação docente dos bolsistas, através da experiência da iniciação a docência, fazendo uma relação entre a teoria e a prática, como também aos educandos pertencentes ao subprojeto, a fim de melhorar a qualidade do ensino da Educação Básica, e o aumento do IDED (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Objetiva-se com isso possibilitar caminhos diferenciados de aprendizagem através do desenvolvimento de estratégias e práticas docentes realizadas pelos bolsistas, através da experimentação de maneiras correntes de expressividade, buscando potencializar diferenciadas práticas docentes.

A aula oficina pressupõe o trabalho coletivo e a participação efetiva dos educandos no desenvolvimento das atividades propostas, podendo elaborar, construir e agir sobre uma variedade de materiais transformando-os em pedagógicos, considerando a diversidade dos educandos. Os conteúdos foram contextualizados de acordo com a realidade dos educandos e a avaliação era através da observação, da participação nas atividades e o interesse de aprender, respeitando o tempo de aprendizagem de cada aluno. Os sujeitos que participaram são alunos do 1º ano, com faixa etária entre seis e sete anos.

Foi realizada uma prática de quatro horas semanais, durante quatro meses na escola onde são desenvolvidas as oficinas. Na oficina “Era uma vez...”, foi trabalhado a contação de histórias, através do livro, “Bichodário”- Telma Guimarães, e atividades relacionadas ao texto. Os alunos fizeram o registro da história, através de desenhos, confecção de um mural coletivo, e um bingo de letras, enfatizando o reconhecimento das letras para formação de palavras. Nessa perspectiva possibilitou-se que o aluno entendido como um ser reflexivo, capaz de intervir e compreender o mundo a sua volta, pudesse criar e reconstruir seu aprendizado, através das atividades que lhe foram proporcionadas.

A oficina “Pequenos Escritores do Alegrete”, tem o objetivo de desenvolver as práticas de leitura e escrita, de contos típicos da região. Desse modo foram trabalhadas algumas das poesias do autor Mário Quintana, e vídeos que mostraram as principais características da vida do autor. A partir do vídeo, desenvolveu-se a produção de texto individual, e a construção de um texto coletivo. Desenvolvendo assim a escrita, e o desenvolvimento cognitivo do alunado, valorizando dessa forma, o pensamento autêntico dos alunos e alunas.

Na oficina “Um, dois, três”, trabalhou-se a alfabetização matemática e desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático. A partir disso, foi proposta uma aula com o histórico da matemática, e fizemos uma roda de conversa com curiosidades, perguntas, e dúvidas sobre como começou a matemática. Logo após aplicou-se exercícios relacionados à matemática, com as seguintes atividades: quadro mágico, ligar o número ao nome correspondente, dominó, descubra quem é o antecessor e o sucessor do número, resolva as continhas de adição e subtração e o jogo twister matemático. A partir desta prática, possibilitou-se a oportunidade dos educandos interagirem com o conteúdo, sendo o centro da aprendizagem.

A oficina “Sopa de letrinhas” tem a finalidade de trabalhar a construção da escrita e a prática da leitura, com enfoque no letramento e a alfabetização. Para o alcance deste, foram desenvolvidas as seguintes atividades: reconhecimento do alfabeto em ordem alfabética, o caça-palavras, e a junção de sílabas, formando palavras. No final da aula, foi desenvolvido um jogo que teve a proposta de instigar o alunado a usar o tato, aprendendo através de uma brincadeira e ludicidade no processo de aprendizagem.

Na oficina “Corpo e Arte em Movimento” foi desenvolvida a expressão corporal, artística e a criatividade dos alunos e alunas. O tema da aula oficina foi sobre a Consciência Negra. Neste contexto trabalhamos a história da origem africana, e o porquê da comemoração desta data. A partir disso, foi apresentada a história “A menina bonita do laço de fita” de Ana Maria Machado e atividades relacionadas à história. As atividades foram: interpretação de texto, completar a história, e separar as palavras em sílabas. Na finalização da aula, foi proporcionado aos educandos, trabalhar com argila, no pátio da escola, com o objetivo de usar a criatividade, construindo algo que para eles representasse a cultura africana. Neste momento, oportunizamos aos alunos e alunas caminhos metodológicos diferenciados que apontam a compreensão do mundo.

A oficina “Navegando”, busca integrar o educando nas tecnologias da informação, desenvolvendo a curiosidade e o espírito investigativo. Nesta oficina proporcionamos aos alunos (as) uma introdução à informática. O tema da aula foi sobre tecnologias. Os alunos assistiram ao filme produzido por Chris Wed e Carlos Saldanha, após foi realizada uma conversa sobre o que eles compreenderam e atividades relacionadas do mesmo, que foram realizadas no laboratório de informática. As atividades foram desenvolvidas nos programas Word, Paint, e softwares educativos, com a finalidade de desenvolver a criatividade e raciocínio lógico.

Mesmo que o processo ainda esteja em desenvolvimento, com essas oficinas podemos perceber que a proposta inicial foi alcançada na medida em que conseguimos realizar as atividades que possam libertar o educando da educação tradicional.

 

Reflexões processuais sobre as práticas desenvolvidas

 

Com esta pesquisa, foi possível uma reflexão sobre as nossas práticas de iniciação a docência, nos possibilitando uma grande aprendizagem na possibilidade de podermos mudar a educação tradicional bem como apontando uma formação qualificada, para o curso de Licenciatura em Pedagogia.

A prática não reprodutora, reflexiva, inovadora e questionadora, pretende a superação da educação bancária, podendo assim oferecer uma educação fundada em valores humanistas, formando seres críticos socias.

Nas aulas oficinas, procuramos desenvolver o cognitivo do aluno, sendo trabalhado seu pensamento autônomo, sua opinião crítica, com atividades que os façam, pensar, refletir, e incentivar a concepção de realidade.

É através da educação, que podemos começar a mudar o contexto social, mas só com ela, não se faz a mudança. Segundo as palavras de Paulo Freire, ele traz sua ideia da responsabilidade que a educação exerce: “Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda” (FREIRE, 2OOO, p.67).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

           Referências

 

FREIRE, Paulo. Educação como prática da Liberdade. Rio de Janeiro; Paz e Terra, 1980.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro; Paz e Terra, 2005.

 

GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 1989.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000.

 

ZAMPAULO, Jamil Rodrigues. Considerações introdutórias sobre o conceito de metodologia em seu significado acadêmico. Disponível em:


 

 

 

 

 

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